“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” 1 Timóteo 6:10
Este é talvez um dos versículos bíblicos mais conhecidos sobre dinheiro. Ele também é usado para a defesa da ideia que o dinheiro é um mal. No entanto, ao contrário do que muitas vezes ouvimos, Paulo não estava contra o dinheiro ou contra as riquezas. Neste versículo, ele alerta-nos para o perigo do amor ao dinheiro. Esse amor pode nos levar a cair em muitas tentações. Portanto, o dinheiro é a raíz de todos os males? Não, claramente o que o AMOR ao dinheiro é identificado como a verdadeira causa de todos os males e não o dinheiro em si. Este aviso, é de facto bastante sério pois Paulo continua e afirma que muitos cristãos se tinham desviado e sofrido com este mal.
O que é o amor ao dinheiro?
Para compreendermos o versículo precisamos de estar atentos à primeira palavra “porque”. Isso leva-nos a analisar o versículo anterior:
“Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição.” 1 Timóteo 6:9
No versículo 9, não encontramos a mensagem que as pessoas ricas são pecadoras e serão destruídas. A palavra chave está no verbo “querer” ou “desejar” que remete para o desejo de ter algo ou para um plano de alcançar algo.
Portanto, Paulo não condena um cristão por ser rico mas alerta-nos para o desejo de o ser. Esse desejo pode então nos trazer muitos problemas e levar-nos a amar o dinheiro (versículo 10). Os perigos do desejo pela riqueza podem ser de facto muito sérios e são armadilhas, ou seja, há desejos na nossa vida que podem nos prejudicar. Veja aqui 10 sinais do amor ao dinheiro.
Com o dinheiro sempre virão mais tentações também. O dinheiro sempre amplifica o que nós somos. Se alguém é arrogante, ser rico poderá aumentar ainda mais a sua arrogância pois o dinheiro poderá trazer uma sensação de segurança e invencibilidade. Nesse sentido, quanto mais dinheiro temos, mais será difícil olharmos para as nossas fraquezas. Para além disso, o amor ao dinheiro pode nos afastar de Deus, nos afastar de outras pessoas e trazer um profundo descontentamento. Quanto mais amamos o dinheiro, mais insatisfeitos vivemos. (Eclesiastes 5:10)
Como os cristãos devem olhar para o dinheiro?
“Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação. Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos para repartir. Dessa forma, eles acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida. ” 1 Timóteo 6:17-19
Depois de alertar para os perigos do amor ao dinheiro, Paulo deixa uma mensagem para os ricos. Essa mensagem pode ser aplicada a todos nós uma vez que o conceito de riqueza é relativo. Todos nós somos ricos em comparação com alguém. Por conseguinte, Paulo não diz que os cristãos ricos deveriam ser expulsos ou se tornarem pobres. O apóstolo não condena as riquezas mas deixa alertas de como devemos lidar com elas. Mais importante do que aquilo que possuímos, é o que fazemos com o que temos e onde colocamos a nossa confiança. O centro da questão está naquilo que estamos a amar. Esta mensagem já tinha sido transmitida também na parábola dos talentos.
Nestes versículos encontramos a forma como devemos encarar o dinheiro:
1. Devemos nos livrar de toda a arrogância. É muito fácil as riquezas fazerem-nos sentir superiores face a quem tem menos. No entanto, devemos ter presentes que a quantidade de dinheiro não está associada ao nosso valor como pessoa. O nosso valor vem em sermos filhos de Deus.
2. A nossa esperança deve estar em Deus e não no dinheiro. A verdade é que o dinheiro traz uma segurança aparente e encontramos muitos alertas na Bíblia sobre o perigo de esquecermos que precisamos de Deus. As riquezas são incertas mas Deus é sempre o mesmo. (Apocalipse 3:17)
3. Precisamos de reconhecer que o dinheiro vem de Deus. Ele é que é o nosso provedor. Tudo aquilo que possuímos, quer seja pouco quer seja muito, vem Dele. Precisamos de viver com consciência dessa dependência.
4. A satisfação é uma benção de Deus. Uma parte daquilo que recebemos deve ser também para nosso gozo. Não há nenhum pecado em usufruirmos do dinheiro desde que o nosso coração esteja centrado em Deus. Infelizmente, alguns cristãos influenciados por teologias que promovem a pobreza e a culpa, não conseguem encontrar alegria no uso do seu dinheiro. É importante entendermos que a Bíblia sempre condena o amor ao dinheiro e não o seu usufruto. Essa satisfação virá essencialmente do nosso trabalho árduo e de uma gestão fiel das nossas finanças. (Eclesiastes 5:18,19)
5. A generosidade é o alvo. O dinheiro é uma ferramenta fantástica para praticarmos o bem. Esse deve ser a nossa motivação para termos uma vida financeira organizada e próspera. Quanto mais temos mais podemos partilhar e acumular tesouros no céu. Dar é o que podemos fazer de melhor com o dinheiro. Assim alcançaremos a verdadeira alegria e satisfação.
O amor ao dinheiro é um problema do coração e não da carteira.
Há várias formas extremas de olhar para o dinheiro: se por um lado o dinheiro pode ser visto como o objetivo de vida, por outro lado poderá ser visto como um mal. Enquanto que há quem defenda uma teologia da prosperidade, onde o dinheiro é um direito, há quem pregue uma teologia da pobreza alimentando a preguiça, a culpa e o medo.
Contudo, estas visões extremistas estão centradas no dinheiro e não no problema: o coração. Mais do aquilo que temos, o importante é aquilo que estamos a amar. O que ocupa o nosso coração? Quais são as nossas motivações? Como gastamos aquilo que Deus nos dá?
O dinheiro é a raiz de todos os males? Não, o amor ao dinheiro é que é o problema.